sexta-feira, julho 15, 2011

Florença ll


Florença por ela mesma, Florença por ficção. Genial apenas por tudo ter sido verdade. Desde a vontade até a idade. Cheiros e decepções, ilusões e percepções. Talvez no final, mas se a incerteza também é real, Florença é verdade.
Viver em Florença é desconhecido e viver de Florença é arriscado.
 Viver para Florença é solitário e demasiado inglório, ingrato.
Criar em Florença é mais divertido, infinito e cor de violeta
Como violeta são suas esquinas e curvas, que não me saem da cabeça
A mesma crença que me levou a ti, me fez te abandonar.
Certa estás, Florença, certa estás.

Florença De Florença
Fuego De Dios.

quarta-feira, julho 13, 2011

Florença


Que Deus abençoe os homens inspirados e as mulheres que os inspiram. As mulheres que os fazem, mesmo que em um curto espaço de tempo, levitar. Por um segundo que seja, quando o perfume dela penetrar nos sentidos dele, o estrago estará feito. Essas mulheres geralmente são incógnitas ao grande publico e muitas vezes seus destinos também. Penso o quão felizes são quando o fazem, penso quem são e onde nascem, ou mesmo porque se escondem. Por exemplo, que mulher que inspirou Coltrane a compor Black and Blue? Quem inspirou Andreas Bello, Virgilio, Cicerón? Que mulher inspirou Neruda para que escrevesse sobre Vodka com Relâmpagos e amor na mesma poesia? Que fim as levou? Será que foram efetivamente de seus inspirados admiradores? Por mais que seja frio abrir os sentimentos a um papel pálido como esse, por vezes é melhor. Ele aceita tudo o que você nele despejar e é capaz de ouvi-lo se duvidar. Compensa com receptividade o silencio que faz após o fim da história. Não lhe julga ou mesmo critica por algum erro, embora também não o aplauda, mas voluntariosamente lhe sede a outra face na forma de próxima página pára que continue, que tente novamente. Tentar novamente, aliás, é definitivamente outra ação que é mais fácil ao se escrever do que na vida real. Quando admiramos as obras desses homens é como se admirássemos também as mulheres a que foram dedicadas, é normal que as imaginemos como Vênus, uma deusa, quando na verdade não deixam de ser, pelo menos aos olhos de seus admiradores e em algum momento. De fato não precisamos saber quem são para saber o frisson que causaram na cabeça deles, tampouco seu nome.

Eu por exemplo, me dei ao deleite de dar nome à mulher que me inspirou a abrir meu coração, éramos contemporâneos, mas hoje eu sei que tinha alguns anos a menos que ela. Acredito que é possível que tenhamos vivido perto um do outro durante nossa juventude ou até mesmo passado um pelo outro em alguma praça ou escola, mas quis o tempo que nos encontrássemos muito tempo depois. Era economicamente um período difícil para todos. Enfrentávamos confrontos, guerras e fome. As famílias da cidade onde morávamos mandavam seus filhos e filhas para uma terra distante para que não fossem alistados e enviados para o campo de batalha. Eu sou o único filho de um casal de lavradores, alto, de pele mista, cabelo curto e olhos expressivos. Desde muito cedo gostei de escrever e no ano seguinte, quando deveria estar entrando para a universidade de letras eu me encontrava refugiado junto com outros rapazes em um casarão que nos servia de alojamento. Cheguei lá ainda jovem, com quase dezoito anos. O lugar era como uma fazenda muito grande, que servia também de refugio para alguns feridos de guerra. Era amplo, espaçoso e ficava em frente da casa onde ficavam as mulheres. A guerra durou anos. Por algum tempo ainda consegui trabalhar de dia e escrever a noite, mas essas chances eram escassas, mal tínhamos tempo para comer e descansar o corpo em uma cama fria. Quando cheguei à fazenda havia levado alguns livros, que li repetidamente por longos anos. Por volta de dez anos depois voltei para casa em um curto recesso da guerra, mas voltaria para a fazenda no ano seguinte em virtude de ser o único lugar da região que não havia sido afetada ou destruída e tivesse ainda alguma comida. Assim foi com praticamente todos que ali moraram esse tempo comigo.
 O casarão dos homens, que era o único que podia ser visto além das cercanias, cresceu muito ao passar dos anos, era vistoso e bem preservado, mas tinha um ar de melancolia que era fácil de ser absorvido após alguns anos longe da família. Logo atrás, ficava o casarão das mulheres, que era menor e mais limpo; tinha portas bem pintadas de amarelo claro e um jardim ao seu redor, que principalmente pela manhã quando recebia o sol, ficava perfumado e dava uma sensação de tranqüilidade a quem por ali passava. Com o passar dos anos fomos obrigados a construir um terceiro casarão, que ficava aos fundos do feminino, que era onde ficavam os casais, que li mesmo tinham se conhecido e constituído família. Mais ao fundo da área total ficava o local onde eu mais gostava de trabalhava que era o pomar, que era separado em três corredores de dez pares de cada tipo de fruto. Para quem o olhasse de frente, logo dando as boas-vindas, tínhamos as figueiras, que no fim do outono perfumava a entrada dos casarões de forma leve e suave. A seguir tínhamos laranjeiras, frutos do conde e um pouco destacado um grande parreiral, que ficava contíguo à parede da cozinha, que era um cômodo separado dos casarões e grande o suficiente para receber a todos nós na hora do almoço, mas o meu local favorito de trabalho era sem dúvida junto às macieiras. À minha esquerda ficavam as maçãs francesas e às minhas costas as maçãs do norte, que eram, na época, a maioria. Eu era responsável pelo ultimo corredor de maçãs, que abrigava as Maçãs de Florença, que eram as árvores mais raras e vistosas que tínhamos. Davam flores e frutas em abundância e de longe passavam imagem de força e beleza. Por vezes já na segunda semana da primavera era possível ver como ela se abrir e parecia gostar de vista. O verde das suas folhas combinava de forma única com o vermelho forte dos muitos frutos que nasciam. O fim das macieiras dava na entrada de onde instalamos cozinha e nela algumas mulheres cozinhavam toda a comida que comíamos e também alguma que era vendida a clandestinos que se refugiavam perto de nós, muitas vezes por não termos mais lugar para acomodar mais pessoas.

Quando adolescente vivi alguns romances, mas sempre fui solteiro. Já não lia há mais ou menos quatro anos e não escrevia há sete. Das mulheres que conheci na casa nenhuma me chamou a atenção a ponto de casar e tinha meu coração muito tranqüilo quanto a isso, talvez o fato de não ter vontade de escrever me incomodasse mais. Há mais ou menos um ano, passado o fim que chega com o mês de abril, aos poucos comecei a sentir uma sensação diferente antes de dormir. No inicio pensei ser solidão, ou mesmo falta de ter com quem conversar, mas o corpo cansado por vezes me obrigou a ignorá-la e dormir, mas não deixei de pensar por completo o que se passava; era como um calor, uma presença. Como uma brisa que me afagava o rosto, como minha mãe fazia, e me dei conta que há anos não pensava nela, mas era muito bom sentir aquilo. Não comentei nada com ninguém sobre isso, era por demasiado íntimo e gostaria de guardar aquilo pra mim apenas. Depois de algum tempo percebi que a poderia controlar. Se ficasse em silêncio e fechasse os olhos a poderia chamar e ela ficava à minha volta o tempo que eu quisesse. Aos poucos ela vinha e tomava conta de mim de forma lenta, muito devagar. Quem muito devagar também se manifestou foi à primavera, chegou com ventos fortes e muita umidade, mas aos poucos tratou de florir e perfumar tudo a sua volta como o de costume. Era a época do ano que eu mais gostava. Tinha o costume de subir em uma Macieira da Florença, que era a mais alta, e dela conseguia ver todo o pomar florido, desde as macieiras até as laranjeiras, mesclando tons de laranja, verde, verde claro, roxo e vermelho. Algumas vezes ali em cima tive vontade de escrever, principalmente vendo de cima a copa das árvores mais próximas que pareciam joaninhas vermelhas e conforme o vento soprava de leve me dava a impressão que dançavam e tentavam levantar vôo.
Foi e um dia assim, que ao topo eu fiquei em silencio e fechei os olhos, mas ouvi algumas vozes perto de mim. Abri os olhos e mirei para baixo e tive uma surpresa. Como se trazida pela primavera, a mulher mais formosa que já tinha visto apareceu em baixo da macieira. Com um cabelo vermelho passando seus ombros, franja rente aos olhos e um vestido cor de areia, mas esses olhos eram tristes. Meu coração disparou e por pouco não caí, fique nervoso! Nunca a tinha visto antes e toda a sensação que havia sentido nas semanas anteriores entrou de uma vez no meu peito como se fora flechado. Ela passou por ali de forma rápida e não tive tempo de observá-la mais. Naquela noite dormi pouco, tentei, mas não consegui descansar. Decidi deixar passar, poderia ter sido uma coincidência, ou algo assim. Procurei não subir mais na macieira e por conseqüência não a vi mais, mas não esqueci seus olhos e seus traços, que de fato eram muito delicados e suaves, mas os vi muito rapidamente. Por um tempo já não sabia mais o que havia de fato visto ou o que tinha imaginado tentando me lembrar. Aguardei por algum tempo para ver se passava aquela sensação, mas não passou. Afobado como um menino que rouba frutas da árvore de seu vizinho, subi na macieira novamente e ali fiquei por algum tempo na esperança de vê-la, senti algo bom em olhá-la e queria sentir novamente. Já havia perdido a noção do tempo quando a vi chegar, conversando com uma amiga em um tom muito baixo, mas sorrindo pouco e com os mesmos olhos tristes. O cabelo era o mesmo, tão lindo quanto na primeira vez. Ao vê-la falar puder reparar em seus lábios e como eram bem desenhados. Os dois minutos em que ela ficou sob meu campo de visão foi todo o tempo que tive para admirá-la, movimento por movimento, passo por passo, expressão por expressão. Dois minutos que quiçá valeram pelos mais de vinte que lá estava. Mesmo quando ela saiu das minhas vistas eu permaneci no topo da árvore, tentando de alguma forma guardar na retina aqueles feitios e tentando resgatar a imagem para achar detalhes que não tivesse visto ou prestado atenção, como uma fotografia. Assim, alguns meses se passaram e reparei que ela andava sempre com a mesma amiga e sempre nos mesmos locais. Questionei a algumas pessoas seu nome ou qualquer informação e nada consegui a não ser que tinha poucos anos a mais que eu. Frustrava-me não saber seu nome, então como a das vezes que a vi, foi do pé de uma macieira da Florença, esse passou a ser seu nome: Florença! Ambas eram as mais bonitas que já havia visto e a presença das duas mexia comigo de forma que não sei explicar até hoje. No auge da primavera as flores da Macieira da Florença eram muitas, com um tom forte de vermelho e com um acabamento muito fino, começavam de cima para baixo, cobrindo toda a copa e findando de forma uniforme e reta, como uma franja que ela usava. Era o nome perfeito, não poderia ser diferente. Dado o nome à musa, a inspiração passou a visitar-me mais freqüentemente, então passei a dedicar-lhe alguns poemas que mantive em segredo.

Possivelmente um dos mais rigorosos invernos que já tivemos acabou por se instalar em junho desse ano em nossa fazenda e não estávamos preparados para ele. Alguns de nós adoecemos e com menos pessoas tivemos que dividir algumas funções, minha querida Florença passou a trabalhar nas manhãs muito perto do pomar e algo em mim me intuiu que era o momento de tentar me aproximar, mas não poderia ser de qualquer maneira. Tudo da forma como se deu foi especial até aqui, desde seu nome até sua semelhança e perfeição com a natureza que me rodeava. Fiquei alguns dias a pensar no que poderia fazer, já que era demasiado tímido para iniciar uma prosa e não gaguejar, até que certa noite, ao começar a escrever, eu descobri! Mesmo com o frio rigoroso eu despertei-me mais cedo que o de costume e observei por alguns dias por onde ela andava e vi quais árvores eram as suas protegidas, que deveria preparar e depois colher as maçãs. Vi que iniciava na terceira da direita para a esquerda e seguida até o final do corredor. Vi também que a primeira árvore que começaria no outro dia tinha alguns frutos baixos, quase da sua altura, onde ela certamente olharia se algo lhe chamasse a atenção. Era madrugada do dia nove para o dia dez de junho quando me pus a escrever-lhe uma carta anônima, que lembro-me de cabeça ainda se necessário for, onde falava do mesmo carinho que senti por ela quando a vi e como ficaria feliz em conhecê-la um pouco mais. Falei do perfume que sentia quando a figura dela se fazia na minha mente e como se exalava em meu quarto também. Enrolei-o com um cordão fino o papel e amarrei antes de amanhecer ao caule da primeira e mais vistosa maçã. Hoje não me lembro se dormi ou não naquela noite, mas provavelmente não. No fim da carta pedi que se tivesse gostado da surpresa, devolvesse o bilhete na mesma árvore em alguma das frutas, e que o resgataria durante a noite. Foi sem dúvida o dia mais longo e nervoso que já passei na vida e a mesma sensação que senti, estou sentindo novamente ao escrever a história, como se fosse hoje. Durante a noite, abaixo de um frio rigoroso saí do meu quarto e  já tentava ver mesmo de longe a macieira, as maçãs ou mesmo o bilhete. Na parte de trás da copa, que ficava contraria a posição da primeira fruta, estava a resposta, escrita de seu próprio punho e amarrada em um cordão branco dedicada à mim. Me chamando de admirador e confirmando que havia, sim, gostado da surpresa. De fato não tinha visto ainda um sorriso dela, mas pude imaginá-lo claramente se abrindo após ler o que eu tinha escrito, assim como igualmente sorri, provocando uma festa em meu coração quando terminei de lê-lo. Me senti vivo novamente após muitos anos, assim como minha criatividade, imaginação e coração. O frio insistia em congelar meus dedos e minha mão ao escrever, mas sentia que tinha calor suficiente para compensar aquele ar gelado. Trocamos cartas pela macieira ao longo de toda a semana. Descobrimos que temos mais afinidades do que eu poderia pensar ou mesmo desejar que tivesse e ela da mesma forma. Ficou muito curiosa quanto a mim e muito feliz com o que eu fiz. Falava com graça que não pensava que um homem a admirasse daquela forma e que muito menos faria algo parecido. Falou-me também de seus medos e receios, e que sua vida havia sido emocionalmente sofrida até ali e que prometeu a si mesma se fechar por algum tempo para se curar. Ao fim de uma semana de mensagens trocadas ela quis me conhecer pessoalmente e meu velho coração voltou a suar, gritar e literalmente pular. Ora de ansiedade, ora de felicidade. Concordei com o encontro de imediato, sem pestanejar.
No fim de semana tínhamos um grande baile e todos os moradores dos casarões iriam, era a ocasião perfeita. Procurei em minha mala antiga o que havia sobrado de trajes elegantes para que eu pudesse vestir e causar boa impressão. Lavei e lustrei meu velho sapato de cerejeira e deixei reta novamente a aba do meu chapéu preto de flanela. Para a minha grande sorte, no fundo da mala, em um pequeno frasco de perfume, restava a dose feita sob medida para o dia seguinte. Nessa noite eu me lembro de ter dormido, lembro também de rezar muito para que tudo desse certo, conforme vinha acontecendo e também do frio que fazia naquela noite, a mais fria do ano, possivelmente.

Acordei cedo e espiei pela janela. Já havia movimento de pessoas indo em direção ao baile. Após um banho quente e renovador eu me vesti. Abotoei cuidadosamente botão por botão da camisa e depois do paletó. Vesti a calça como deve se vestir um cavalheiro, primeiro a perna direita e depois a esquerda, com cuidado para não desfazer o friso frontal. Sapato em cada pé, devidamente calçado e brilhando como novos. O chapéu foi colocado bem lentamente para não desmanchar o penteado. Já quanto ao perfume, deixei para colocá-lo no último minuto antes de sair para que durasse mais tempo em meu corpo.
Cheguei no horário combinado, dez da manhã, e no local combinado: Quinta laranjeira da primeira fila do pomar, na qual o corredor daria na entrada da festa. Mesmo com o frio, havia sol quando saí de casa, mas o tempo já dava ares de que uma chuva começaria em breve e logo me preocupei, pois não sabia se Florença traria seu guarda-chuva, pois eu não tinha nenhum! Minha ansiedade aumentava conforme o tempo corria, já era mais de dez e meia e nada dela aparecer, praticamente todos já estavam dançando e acomodados à suas mesas... A chuva se aproximava e não a via de onde eu estava. Onze e meia em ponto começou a chover. Uma chuva muito fria, que cortava a mim como uma navalha. A laranjeira me ajudou por um tempo, mas acabou por ceder e tive que procurar um abrigo mais firme, então caminhei em direção ao festival e vi de costas uma mulher de cabelos vermelhos caminhar rapidamente em direção aos casarões. Corri e a chamei, mas era em vão, era longe demais para que me ouvisse, mas com a chuva minha visão ficou turva e não tive certeza de que era ela, a minha Florença. Voltei para casa confuso e um tanto arrasado. Inventando motivos para que não tivesse aparecido...  Saquei meus sapatos completamente cheios de água e já sem brilho algum. Fiquei em casa por dois dias pensando no que poderia ter ocorrido. O porquê de não ter me procurado no evento. Meu Deus, tanta coisa poderia ter acontecido, é possível que não tenha roupa de chuva e frio e preferiu voltar para casa, que não tenha me achado talvez? Que tenha contado o numero de laranjeiras errado, são tantas árvores!!! É possível que tenha me visto e não tenha gostado de mim, por isso preferiu voltar, talvez tenha me achado feio...  Fato que até então não havia me passado na cabeça, não tinha me sentido feio até agora... Foi quando murchei exatamente como a laranjeira que cedeu com o peso da chuva sobre mim e não consegui me olhar no espelho durante os dois dias que passei em casa... A própria curiosidade da parte dela, as afinidades, os desejos... Porque não procuraria me conhecer melhor? Assim como ela eu não esperava o que aconteceu, foi tudo muito rápido. Era possível que ela tenha ficado assustada da forma como tudo se deu, que tivesse medo do que ia acontecer. Eram muitas possibilidades e mesmo assim não tenho certeza que era ela de costas, poderia ser qualquer mulher de cabelo vermelho...
Já no terceiro dia sem dormir, mesmo com chuva forte, eu fui até a nossa árvore para procurar alguma noticia sua ou qualquer sinal. Procurei em todas as maçãs do pomar algo que me aliviasse o peito, mas eram poucas as frutas que tinham se mantido firmes no pé com o temporal. Pensei em ir subir na árvore como antes, mas já não era a hora. Não mais. A vista lá de cima era fantástica, mas não sei me animaria como antes. A paisagem é bela aos olhos de quem vê e não sei os meus tem tal habilidade hoje. Voltei para casa e preferi esperar o dia amanhecer.
No quinto dia, após pensar muito decidi fazer as malas e deixar a fazenda. Enquanto arrumava minhas coisas, na manhã de hoje um amigo bateu-me a porta e disse que uma mulher do segundo casarão morreu de frio na madrugada que antecedeu o grande baile e embora tenha emudecido, preferi não saber mais detalhes. Virei as costas e saí em direção ao trem, mesmo me arrependendo cada passo que caminhava naquela estrada comprida, era como se cada perna pesasse dez quilos a mais. Fui o primeiro a entrar no trem e ajeitei as malas no bagageiro. Cada minuto que passava antes dele partir eu pensei em voltar e conferir se era ela no caixão, mas só de pensar em vê-la junto às outras pessoas ao redor do caixão e não dentro dele as minhas pernas tremiam de tal forma que mesmo se desejasse voltar, conseguiria levantar. A minha escolha agora era com qual sensação eu quero conviver até o fim dos meus dias, se a de um amor perdido ou com a rejeição. Imaginar a possibilidade de que ela ainda esteja viva e por ser conquistada... E de que esse conquistador não seja eu. O trem acabou de partir.

FIM 


Gabriel de Deus (De Florença)

The Fire Walk's with us