domingo, novembro 14, 2010

Par de Pernas (Tiger)


Parece que de alma leve os dedos ficam leves também, da pra escrever melhor, pensar melhor. Ouvir o que geralmente não ouvimos. Parece que se fecharmos os olhos conseguimos ver melhor algumas coisas e foi aí que passei por uma situação curiosa, que gostaria de compartilhar.

É engraçado ver o que é hoje apenas mais um par de pernas que não tive o que já foi forte alvo de cobiça. De intenso desejo. Enquanto segredo eram aos meus olhos eu conseguia me prender a uma boca larga a fina, a cabelos dourados e a gestos incomuns. Digamos que alguns minutos parei para vê-la passar e até perde-la de vista eu pensei. Com toda a imaginação eu criei. Levantei sua saia o dobro de vezes que por mim passou, e com que graça passou. Perna pós perna de leveza e pressa. Pressa que quanto maior fosse, exalava em mim um perfume doce que parecia natural. Menos mal que não a toquei, não me garanto a partir daí. Se fechos os olhos me sinto subir, desde a ponta do dedo, até o seu joelho. Em um cortejo beijo sua coxa por dentro e por fora. Beijos quentes e demorados, sem precisão e sem forma, apenas tributo. Me dou ao luxo de manter os olhos fechados, sem percepção de luz. Me guio cego por uma estrada sem rumo, mas de agradável trajeto. À medida que avanço sinto sua pele mais quente e mais úmida. Sinto na língua a textura fina e frágil, superfície única e indefesa. Com as duas mãos e com força as abri com cuidado e com vigor e não teve um canto que não foi beijado. Com a tentação ao meu lado deslizei os dedos por todas as curvas presentes... E observei...

Queria ter o dom de pintá-las... colocá-las numa moldura onde somente eu as visse, um mundo a parte. São arte aos meus olhos e não me importo de ser o único em vê-las assim, aliás, seria uma honra. É uma pena que a dona de pernas tão graciosas e pequenas seja surda. Surdez voluntária. Da cintura pra cima seu corpo é cego a arte literaria e por paradoxo não imagina o que senti. Mas por mais que a cabeça seja assim, são as penas que andam e elas vieram até mim. Exploraram minhas ideias e fantasias, me deixaram perto da magia de tê-las e  me sacaram dali. Preciso esperar, ser paciente e perseverar. Que um dia há de chegar, um par de pernas só pra mim.

Gabriel Voyeur de Deus
Camino con el fuego, tias.