Parece que de alma leve os dedos ficam leves também, da pra escrever melhor, pensar melhor. Ouvir o que geralmente não ouvimos. Parece que se fecharmos os olhos conseguimos ver melhor algumas coisas e foi aí que passei por uma situação curiosa, que gostaria de compartilhar.
É engraçado ver o que é hoje apenas mais um par de pernas que não tive o que já foi forte alvo de cobiça. De intenso desejo. Enquanto segredo eram aos meus olhos eu conseguia me prender a uma boca larga a fina, a cabelos dourados e a gestos incomuns. Digamos que alguns minutos parei para vê-la passar e até perde-la de vista eu pensei. Com toda a imaginação eu criei. Levantei sua saia o dobro de vezes que por mim passou, e com que graça passou. Perna pós perna de leveza e pressa. Pressa que quanto maior fosse, exalava em mim um perfume doce que parecia natural. Menos mal que não a toquei, não me garanto a partir daí. Se fechos os olhos me sinto subir, desde a ponta do dedo, até o seu joelho. Em um cortejo beijo sua coxa por dentro e por fora. Beijos quentes e demorados, sem precisão e sem forma, apenas tributo. Me dou ao luxo de manter os olhos fechados, sem percepção de luz. Me guio cego por uma estrada sem rumo, mas de agradável trajeto. À medida que avanço sinto sua pele mais quente e mais úmida. Sinto na língua a textura fina e frágil, superfície única e indefesa. Com as duas mãos e com força as abri com cuidado e com vigor e não teve um canto que não foi beijado. Com a tentação ao meu lado deslizei os dedos por todas as curvas presentes... E observei...
Queria ter o dom de pintá-las... colocá-las numa moldura onde somente eu as visse, um mundo a parte. São arte aos meus olhos e não me importo de ser o único em vê-las assim, aliás, seria uma honra. É uma pena que a dona de pernas tão graciosas e pequenas seja surda. Surdez voluntária. Da cintura pra cima seu corpo é cego a arte literaria e por paradoxo não imagina o que senti. Mas por mais que a cabeça seja assim, são as penas que andam e elas vieram até mim. Exploraram minhas ideias e fantasias, me deixaram perto da magia de tê-las e me sacaram dali. Preciso esperar, ser paciente e perseverar. Que um dia há de chegar, um par de pernas só pra mim.
Gabriel Voyeur de Deus
Camino con el fuego, tias.
Gabriel Voyeur de Deus
Camino con el fuego, tias.